segunda-feira, 18 de abril de 2016

Sobre deputados, deboches, impeachment e novela mexicana #DaquiPorDiante?

A sessão de votação da admissibilidade do impeachment de Dilma pela Câmera dos deputados foi um verdadeiro show de entretenimento. Houve risos, deboches, comédia pastelão, drama, choro e raiva. Os deputados demonstraram seus sentimentos, genuínos ou não, com desempenho digno de uma boa novela mexicana. Sem dúvidas, foi um teatro político muito bem executado. Ou seria melhor dizer, um circo?
Levando-se em consideração os motivos citados por cada um dos deputados em referência aos filhos, pais, amigos dentre outros, não cabe aqui dizer se foi justo ou não a sessão ter encerrado com a maioria dos deputados votando a favor da continuação do processo de Impeachment. Da forma como discursaram o crime de responsabilidade fiscal em julgamento parecia ser um motivo absolutamente secundário. Quase não acreditei quando aquele deputado se apossou novamente do microfone para mandar um abraço ao filho, esquecido em seu primeiro discurso. Depois disso não me surpreenderia se um daqueles homens pegasse o microfone para dizer “um beijo para minha mãe, para o meu pai e outro especialmente para você” em referência ao deputado Eduardo Cunha. Coisa que o deputado Bolsonaro chegou bem próximo de fazer. Lamentável também a falta de respeito e a cusparada de Jean Willys. O que aconteceu ontem foi um verdadeiro show de horrores transmitido ao vivo pela TV. Mas são esses senhores que juntos definem, ou deveriam definir, sobre pautas importantes para o país. O pior, fomos nós que os colocamos na posição em que estão hoje!
Justo ou não, o Impeachment é legítimo. As leis de fato estão sendo cumpridas. Entretanto, não há como sentir uma felicidade plena, visto que o Brasil não amanheceu sendo a Suíça. Os problemas de ontem ainda são os mesmos de hoje. Inflação, desemprego, desindustrialização... As incertezas foram ampliadas e a ressaca moral ainda não passou. Como posso crer em mudanças efetivas observando a linha de sucessão para o caso de afastamento de Dilma: Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Onde está à justiça moral disso tudo?
Aparentemente não há, afinal, estamos falando da política brasileira.
Entretanto, o impeachment não é apenas legítimo, mas também necessário. Afastar Dilma é dar respaldo ao trabalho de Sérgio Moro na operação lava-jato. É sinalizar que não somos tolerantes à corrupção. Entretanto, esse remédio é amargo e tem efeitos colaterais. Significa também ter que engolir o sapo de ter um cínico Eduardo Cunha presidindo a votação. Também quer dizer que de certa forma “devemos agradecimentos” aos deputados do PP e do PMDB que votaram pelo SIM, mesmo que estes sujeitos estejam atolados até o pescoço no dinheiro roubado do Petrolão. Quanta ironia!
A verdade é que mesmo se Dilma permanecesse no cargo de presidenta, ela não governaria. Simplesmente não conseguiria. A câmara dos deputados está praticamente parada desde as últimas eleições. Nenhum projeto importante ou relevante ao país e aos brasileiros foi votado. Os deputados e a senhora presidente estavam ocupados demais medindo forças pelo poder ao invés de pensar no bem estar da população. Não se enganem, embora a família brasileira, Deus e a honra tenham sido muito citados nos curtos discursos dos senhores deputados, o motivo real em discussão na ocasião era com quem ficaria o poder.
A partir de agora a pressão popular deve se intensificar. A operação lava-jato não pode parar. Mais políticos cairão e é importante que o povo não deixe seus crimes passarem impunemente. A corrupção não acaba com a queda de Dilma. Temos que nos lembrar disso. O apoio popular a Sérgio Moro deve aumentar para que tentativas de manobras políticas não sufoquem o desenrolar da Lava-Jato e livrem a cara de muitos corruptos. Se o sistema político está viciado, é preciso que ocorram mudanças. Os políticos que permanecerem de pé devem saber que as regras estão mudando. Estaremos de olho!
Não acredito que Michel Temer fará um milagre no Brasil ou que alguma grande revolução seja feita. Ele deve agir como um médico tentando estancar a hemorragia para manter o paciente estável, se sobreviver até 2018 já é lucro. Ao mesmo passo, Temer assumirá um discurso de unificação e pacificação nacional tentando angariar apoio das ruas e fortalecer seus aliados políticos. Por outro lado, precisará defender seus próprios interesses e o do partido. Visto o PMDB ser citado em várias listas de propina. Os partidários do PT, PMDB e PP foram “apenas” o mais beneficiados com o esquema do Petrolão. Sem contar que o mesmo dinheiro ilícito que elegeu Dilma o elegeu. Isso não passará despercebido. Lula e a oposição formada por PT e seus aliados não deverão dar trégua aos seus “traidores”. Talvez vejamos uma daquelas cenas onde o bandido morre, mas morre atirando para levar o máximo de inimigos junto com ele.
Não, a saída de Dilma não será capaz de conter a insatisfação popular. O trabalho para Temer não será fácil e se manter no poder igualmente difícil.
Porém, com o voto de confiança da câmara dos deputados e com o poder em mãos e uma maioria no senado, Temer terá maiores condições de governabilidade do que Dilma. Situação embaraçosa. Um corrupto sucedendo ao outro em troca das migalhas do congresso. Será possível controlar a inquietude popular para com tal disparate?
#daquipordiante não dá para prever o que acontecerá até que o impasse político seja resolvido e certamente ele está longe de se definir. Enquanto não houver definição política, não haverá estabilidade econômica.
Uma afirmação a ser feita é de que ao final dessa briga de poderes, restará uma conta alta a ser paga e certamente ela será paga pelo povo.
Por isso #daquiprafrente o brasileiro precisará acostumar-se a depender cada vez menos de políticas públicas e do conforto que uma economia em crescimento trazia. Esqueça o tempo em que o governo provia recursos e subsídios. Pare de pensar em planos de carreira que indústrias sólidas ofereciam. Nada mais é sólido em tempos de indefinição. Estejam prontos para um cenário onde as palavras cortes, reajustes de orçamento e redefinição de metas estarão cada vez mais presentes. Prepare-se para um tempo onde será preciso empreender e intraempreender como única forma de sobreviver ao mercado. Mais do que nunca o poder precisa voltar às mãos do indivíduo.

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