sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Tá com pena? Leva pra casa! #sqn



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Esse é um texto sobre meu horror às chacinas ocorridas em presídios e ao perigo de viver em uma sociedade que se embrutece ao fazer justiça com as próprias mãos. O texto não está relacionado à compaixão e nem a minha falta vontade de adotar um delinquente.


O brasileiro gosta de futebol. Ama. Venera. Aprecia tanto que estende a lógica do time A contra o time B para todas as esferas da sua vida. Seja política, religião e a mais nova onda do momento: bandido “bom é bandido morto”, quem discordar disso “que leve um bandido para casa”. Não há espaço para conversa, é 8 ou 80, sem meio termo. 

Ontem me deparei pela primeira vez com um hater, ou odiador, em uma rede social. O debate no post estava relacionado às mortes ocorridas no presídio do Amazonas, decorrentes de uma rebelião entre os detentos. Havia uma única pessoa expressando educadamente seu repúdio a violência pregada por Jair Bolsonaro em um vídeo divulgado no Youtube, os demais entoavam o mantra “bandido bom é bandido morto”. Então, aconteceu que esse homem, um senhor de idade, foi massacrado pelos comentários dos demais participantes da conversa. O inimigo já não era mais o criminoso do Amazonas, mas ele, o homem que resolveu expressar seu pensamento. A coisa toda aconteceu de um jeito maldoso, sem educação alguma, totalmente baseada em ofensas pessoais. Eu, que estava por ali apenas espiando os acontecimentos, me senti mal com a situação. Puxa, eu concordava com tudo o que o cara havia falado, mas estava ali em silêncio, me omitindo de opinião, deixando o homem ser linchado virtualmente. O que fazer? Deixar pra lá e esquecer essa história, afinal, o que acontece nas redes sociais não se transfere para a vida real? Expor a opinião e correr o risco de sofrer represálias? Paralisia.

Pensei imediatamente nas pessoas que viram o vendedor ambulante ser brutalmente assassinado, na estação do trem em São Paulo, e não fizeram absolutamente NADA para ajudar! Ali, naquele mundo virtual, laboratório de comportamento humano, eu era exatamente uma daquelas pessoas omissas.

Isso me incomodou profundamente por uma noite inteira. Sério! Perdi meu sono pensando no quanto algumas pessoas estão enlouquecendo. Pessoas de bem fora do Facebook, dentro da rede social transformam-se em selvagens! São os ditos homens e mulheres de família comemorando a morte de outras pessoas! Gente RELIGIOSA aplaudindo um ser humano tirando a vida do outro, por acaso não era só Deus que podia fazer isso? COMO ASSIM PESSOAL???

Será que ninguém percebe algumas coisas estranhas nessa situação louca?

- Como os detentos tiveram acesso às armas? 

- Como os apenados conseguiram sair de suas celas à noite e invadir locais aos quais eles não deveriam ter acesso?

- Como os celulares com os quais eles gravaram vídeos e fotos da barbárie chegaram até eles? 

- Como é que tiveram acesso à internet para repassar as imagens através das redes sociais?

- Como é que o estado sabia das intenções dos criminosos e não agiu antecipadamente? 

Gente, isso é preocupante! Concluo que detentos só continuam confinados porque querem e não porque há algum tipo de segurança que os mantenha encarcerados. 

O que há de errado, ou melhor, há alguma coisa certa no sistema prisional brasileiro? 

Como resolver esses problemas? Coloca a cabeça pra pensar meu povo!

“Não importa. Bandido bom é bandido morto! ”

Não gente, a questão não é sobre ter ou não ter compaixão com o criminoso. A questão é sobre não ter a garantia que o bandido vai ficar preso. Ao contrário do que pensa quem está aplaudindo esse banho de sangue, os presidiários ASSASSINOS não são os mocinhos. Pelo contrário, são justamente os mais violentos! 

“Ah, mas quem morreu também não era santo.”

Não, não eram santos. Mas estavam ali e deveriam cumprir sua pena, cumprir a lei, conforme a justiça determina.

Hoje a única coisa que esses marginais remanescentes aprenderam é que não importa onde eles estejam, fora ou dentro da prisão, eles podem fazer o que quiserem. 

E aí, o que acontece depois? 

Vai acontecer que a sociedade ambígua que os julga por seus crimes fora dos muros do presídio e os está colocando em um pedestal hoje, por cometer mais ASSASSINATOS, será a mesma que os encontrará pelas ruas após o cumprimento de sua pena. 

Dois pesos, duas medidas. Nenhuma reflexão a respeito de moralidade, certo e errado, poder e dever...

E o que eles estão aprendendo? “Eu vou matar porque eu POSSO. Eu vou roubar porque eu POSSO. Eu faço parte do seleto grupo popstar das chacinas de presídios desse Brasil e eu posso TUDO porque o brasileiro AMA me ver MATANDO outro SER HUMANO. A lei NÃO se aplica a mim.”

“Ah, mas se tá com pena leva eles pra tua casa!”

Eu não quero bandido na minha casa, eu não quero que minha família, ninguém que eu amo ou que não amo, um desconhecido que seja, sofra qualquer tipo de violência. O que eu quero é SEGURANÇA. Se uma pessoa age em desconformidade com a lei, ela precisa ser punida e pagar pelos seus erros. O lugar do criminoso é na prisão. O que eu desejo, portanto é a garantia de que o criminoso que está preso, continue preso. Preciso saber que de dentro das prisões ele pagará pelos seus atos e não continuará cometendo crimes, dentro ou fora de lá. Necessito que o estado me dê garantias de que os presídios não são apenas depósitos, mas sim, o fim de um ciclo de violência, e de que as novas gerações não sejam expostas à meios que favoreçam a criação e multiplicação de bandidos. O motivo? 

Porque uma vez que esse ciclo não seja encerrado, ao contrário, ele for alimentado, a violência será um eterno crescente. Ainda mais agora, onde o bandido que continua ASSASSINANDO virou uma espécie de anti-herói com direito a fãs e defensores.

Para nós, cidadãos de bem, vamos ter consciência que existem crianças e adolescentes aprendendo com nossos exemplos, portanto não haja como um santo, que vai na igreja toda semana, participa das atividades comunitárias da sua cidade, defende os animais, é contra o aborto, endeusa a atividade policial, só escuta música gospel, maaaaaaaaaaas... nas redes sociais apoia bandido! 

Não seja controverso, lei é para cumprir, propague isso! Se o assassinato é errado, ele é errado em qualquer lugar e para qualquer pessoa. Se eu não devo ser um bandido, eu não devo apoiar os atos dos bandidos. Sejam quais forem! 

"Ah, mas a justiça desse país não funciona!"

Concordo em muitos aspectos, mas não é porque as leis estão equivocadas em certos pontos que a gente ganha o direito de sair fazendo justiça com as próprias mãos! Se a coisa continuar enveredando por este caminho, daqui a pouco os cidadãos comuns, indignados por sua impotência estarão se tornando criminosos também. A exemplo do ocorrido em Porto Alegre, onde três seguranças particulares que faziam a vigilância de uma IGREJA, renderam e espancaram de forma brutal um morador de rua. Como argumento disseram que o agredido havia furtado um celular e que não adiantaria chamar a polícia porque eles nada fariam. O acusado nega o crime. Não havia nenhum celular em sua posse.  Será que apenas a imobilização do homem até a chegada da brigada militar não seria suficiente? Havia necessidade de três homens grandes e fortes espancar um homem magro, desarmado e que não oferecia resistência?  Visto tratar-se de seguranças de uma igreja, o correto não seria agir em conformidade com a filosofia da instituição cristã? 

Voltando ao assunto do hater citado lá em cima, resolvi deixar minha opinião naquele post. Chega dos moderados serem sufocados pelos gritos histéricos dos extremistas! O resultado foi o previsto, o cidadão, profissão policial inclusive, me esculachou! Um verdadeiro animal irracional enraivecido. Em uma breve troca de palavras percebi a ignorância da criatura em relação a conceitos básicos sobre educação, me despedi rapidamente e encerrei o assunto. Fiz isso com muita elegância, não que ele merecesse ou que tenha entendido a minha ironia, mas porque eu SOU educada e não é o comportamento selvagem de uma outra pessoa que vai me embrutecer. Não é o desatino do outro que vai me enlouquecer. Aprendizado da semana: para haters uma palavra amiga e como tréplica o silêncio.

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