quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A Alegoria da Caverna

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Sócrates – Agora leva em conta nossa natureza, segundo tenha ou não recebido educação e compara-a com o seguinte quadro: imagina uma caverna subterrânea, com uma entrada ampla, aberta à luz em toda sua extensão. Lá dentro, alguns  homens se encontram, desde a infância, amarrados pelas pernas e pelo pescoço de tal modo que permanecem imóveis e podem olhar tão somente para a frente, pois as amarras não lhes permitem voltar a cabeça. Num plano superior, atrás deles, arde um fogo a certa distância. E entre o fogo e os prisioneiros eleva-se um caminho ao longo do qual imagina-se que tenha sido construído um pequeno muro semelhante aos tabiques que os titeriteiros interpõem entre si e o público a fim de, por cima deles, fazer movimentar as marionetes.

Glauco – Posso imaginar a cena.

Sócrates – Imagina também homens que passam ao longo desse pequeno muro carregando uma enorme variedade de objetos, cuja altura ultrapassa a do muro: estátuas e figuras de animais feitas de pedra, madeira e outros materiais diversos. Entre esses carregadores há, naturalmente, os que conversam entre si e os que caminham silenciosamente.

Glauco – Trata-se de um quadro estranho e de estranhos prisioneiros.

Sócrates – Eles estão como nós. Acreditas que tais homens tenham visto de si mesmos e de seus companheiros outras coisas que não as sombras projetadas pelo fogo sobre a parede da caverna que se encontra diante deles?

Glauco – Ora, como isso seria possível se foram obrigados a manter imóvel a cabeça durante toda a vida?

Sócrates – E quanto aos objetos transportados ao longo do muro, não veriam apenas as suas sombras?

Glauco – Certamente.

Sócrates – Mas, nessas condições, se pudessem conversar uns com os outros, não supões que julgariam estar se referindo a objetos reais ao mencionar o que veem diante de si?

Glauco – Necessariamente.

Sócrates – Supões também que houvesse na prisão um eco vindo da frente. Na tua opinião, cada vez que falasse um dos que passavam atrás deles, não acreditariam os prisioneiros que quem falava eram as sombras projetadas diante deles?

Glauco – Sem a menor dúvida.

Sócrates – Esses homens, absolutamente, não pensariam que a verdadeira realidade pudesse ser outra coisa senão as sombras dos objetos fabricados?

Glauco – Sim, forçosamente.

Sócrates – Imagina agora o que sentiriam se fossem libertados de seus grilhões e curados de sua ignorância, na hipótese de que lhes acontecesse, muito naturalmente, o seguinte: se um deles fosse libertado e subitamente forçado a se levantar, virar o pescoço, caminhar e enxergar a luz, sentiria dores intensas ao fazer todos esses movimentos e, com a vista ofuscada, seria incapaz de enxergar os objetos cujas sombras ele via antes. Que responderia ele, na tua opinião, se lhe fosse dito que o que via até então eram apenas sombras inanes e que, agora, achando-se mais próximo da realidade, com os olhos voltados para objetos mais reais, possuía visão mais acurada? Quando, enfim, ao ser-lhe mostrado cada um dos objetos que passavam, fosse ele obrigado, diante de tantas perguntas, a definir o que eram, não supões que ele ficaria embaraçado e consideraria que o que contemplava antes era mais verdadeiro do que os objetos que lhe eram mostrados agora?

Glauco – Muito mais verdadeiro.

Sócrates – E se ele fosse obrigado a fitar a própria luz, não acreditas que lhe doeriam os olhos e que procuraria desviar o olhar, voltando-se para os objetos que podia observar, considerando-os, então, realmente mais distintos do que aqueles que lhe são mostrados?

Glauco – Sim.

Sócrates – Mas, se o afastassem dali à força, obrigando-o a galgar a subida áspera e abrupta e não o deixassem antes que tivesse sido arrastado à presença do próprio sol, não crês que ele sofreria e se indignaria de ter sido arrastado desse modo? Não crês que, uma vez diante da luz do dia, seus olhos ficariam ofuscados por ela, de modo a não poder discernir nenhum dos seres considerados agora verdadeiros?

Glauco – Não poderia discerni-los, pelo menos no primeiro momento.

Sócrates – Penso que ele precisava habituar-se, a fim de estar em condições de ver as coisas do alto de onde se encontrava. O que veria mais facilmente seriam, em primeiro lugar, as sombras; em seguida, as imagens dos homens e de outros seres refletidas na água e, finalmente, os próprios seres. Após, ele contemplaria, mais facilmente, durante a noite, os objetos celestes e o próprio céu, ao elevar os olhos em direção à luz das estrelas e da lua – vendo-o mais claramente do que ao sol ou à luz durante o dia.

Glauco – Sem dúvida.

Sócrates – Por fim, acredito, poderia enxergar o próprio sol – não apenas sua imagem refletida na água ou em outro lugar –, em seu lugar, podendo vê-lo e contemplá-lo tal como é.

Glauco – Necessariamente.

Sócrates – Após, passaria a tirar conclusões sobre o sol, compreendendo que ele produz as estações e os anos; que governa o mundo das coisas visíveis e se constitui de certo modo, na causa de tudo o que ele e seus companheiros viam dentro da caverna.

Glauco – É evidente que chegaria a estas conclusões.

Sócrates – Mas, lembrando-se de sua habilitação anterior, da ciência da caverna que ali se cultiva e de seus companheiros de cativeiro, não ficaria feliz por haver mudado e não lamentaria por seus companheiros?

Glauco – Com efeito.

Sócrates – E se entre os prisioneiros houvesse o costume de conferir honras, louvores e recompensas àqueles que fossem capazes de prever eventos futuros – uma vez que distinguiriam com mais precisão as sombras que passavam e observariam melhor quais dentre elas vinham antes, depois ou ao mesmo tempo –, não crês que invejaria aqueles que as tivesse obtido? Crês que sentiria ciúmes dos companheiros que, por esse meio, alcançaram a glória e o poder, e que não diria, endossando a opinião de Homero, que é melhor “lavrar a terra para um camponês pobre” do que partilhar as opiniões de seus companheiros e viver semelhante vida?

Glauco – Sim, na minha opinião ele preferiria sustentar esta posição a voltar a viver como antes.

Sócrates – Reflete sobre o seguinte: se esse homem retornasse à caverna e fosse colocado no mesmo lugar de onde saíra, não crês que seus olhos ficariam obscurecidos pelas trevas como os de quem foge bruscamente da luz do sol?

Glauco – Sim, completamente.

Sócrates – E se lhe fosse necessário reformular seu juízo sobre as sombras e competir com aqueles que lá permaneceram prisioneiros, no momento em que sua visão está obliterada pelas trevas e antes que seus olhos a elas se adaptem – e esta adaptação demandaria um certo tempo –, não acreditas que
esse homem se prestaria à jocosidade? Não lhe diria que, tendo saído da caverna, a ela retornou cego e que não valeria a pena fazer semelhante experiência? E não matariam, se pudessem, a quem tentasse libertá-los e conduzi-los para a luz?

Glauco – Certamente 

(PLATÃO, 1989)

Por que você trabalha? POR FLÁVIO AUGUSTO / 09 FEV 2017

03-Por que você trabalha
Muitos respondem: porque eu preciso.
O fato de você precisar respirar para viver não significa que sua vida tenha a mera finalidade de respirar. Em geral, você espera muito mais da vida do que apenas respirar.
Trabalhar porque precisa é o mesmo que viver somente para respirar. Sua vida pode ter um sabor diferente quando você experimentar, dentro de sua realidade, trabalhar para realizar e para construir para suas próximas gerações algo melhor do que você recebeu quando chegou a este mundo.
Trabalho não é um castigo, não é uma atividade detestável e tampouco o transforma num escravo ou explorado. Trabalho é apenas um meio para quem tem um fim maior do que somente pagar as contas no final do mês.
Neste jogo do banco imobiliário da vida real, o dinheiro tem a mesma função daquele usado no banco imobiliário do jogo de tabuleiro. Você precisa aprender a lidar com ele e saber produzi-lo. Se pelas vias formais você não gera tanto dinheiro como gostaria – em geral, não vai mesmo – pense por outros meios, mas sempre de forma honesta. Saber lidar com o dinheiro e conseguir acumulá-lo para poder investir a fim de produzi-lo em maior quantidade é mais simples e prazeroso do que muitos pensam.
Isso deveria ser ensinado desde a infância, na escola, mas infelizmente não é. Ao contrário, uma mentalidade passiva e de mera troca de tempo por salário, o famoso emprego, é a única coisa que o sistema ensina. Que pena…

Fonte: http://geracaodevalor.com/blog/por-que-voce-trabalha/

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Resposta à pergunta: O que é Esclarecimento? de Immanuel Kant (1783)

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Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento [Aufklärung].

A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parcela dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha (naturaliter maiorennes), continuem no entanto de bom grado menores durante toda a vida. São também as causas que explicam por que é tão fácil que os outros se constituam em tutores deles. É tão cômodo ser menor. Se tenho um

Inspiração pra vocês!

Think about this!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Sobre políticos e piratas

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Os reinos, ou seja, as instituições políticas e seus governantes sempre farão o mal, sempre efetuarão grandes latrocínios, e no fundo, não há nenhuma diferença moral entre os piratas que assaltam Navios e os governantes que assaltam povos inteiros.

Santo Agostinho (354-430)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Convite para pensar - Por Professor Selvino José Assmann

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Tudo corre. Escorre. Tudo muda. Até na universidade

professores e alunos correm cada vez mais. Nada permanece. Tudo

é líquido. E todos corremos. Se não o fizermos, outros passarão

por cima de nós, e seremos considerados preguiçosos ou

incompetentes. Mas em geral não sabemos para onde corremos,

mesmo que daqui a pouco, não se sabe quando, venhamos a dar

de cara com a morte. Inevitavelmente. E ficamos produzindo,

fazendo coisas...

Precisamos ser competentes tecnicamente para que alguém

nos dê um lugar, um emprego, mas também flexíveis, maleáveis,