
A velha está
sentada em sua cadeira de balanço, ali na varanda da casa ela pode ver quem
passa na rua, carros e pessoas, as crianças brincando no pátio do vizinho. Ela
escuta os barulhos que a fazem lembrar de que época de sua vida está vivendo, o
apocalipse! Carros buzinam, pessoas gritam, outras se xingam. As crianças não
jogam mais bola, são dois meninos e cada um deles está grudado em seu smartphone,
divertem-se com os corpos absolutamente inertes, mas sendo grandes campeões de
futebol jogando juntos no mundo virtual.
A vida mudou,
ela sabe. Não foram apenas as rugas e os cabelos brancos que lhe mostraram que
o tempo passou. A sua cabeça também já não é mais a mesma. Hoje os seus
pensamentos são tão diferentes daqueles que tinha com seus vinte e poucos anos.
Tolinha. Isso é o que era naquela época. Tudo na vida daquela jovem era tão
intenso e urgente que às vezes, por não pensar um pouco melhor nos assuntos,
metia os pés pelas mãos e quebrava a cara. Mas é verdade também que toda a
força com que levava a vida, lhe proporcionaram o movimento tão necessário para
que do alto de seus oitenta e cinco anos, ela soubesse que não precisaria ter
tido tanta pressa. Querer que o tempo passe mais rápido na sua idade é a mesma
coisa que desejar se despedir mais cedo.
Nas poucas
vezes em que os filhos aparecem para lhe visitar, ela avisa:
-Vão mais
devagar! Aproveitem a vida, parem com essa correria. Para que trabalhar tanto,
para depois gastar todo o dinheiro e então precisar trabalhar mais ainda? Aprender
a viver com menos para então poder viver mais! Seus filhos estão crescendo e
vocês não estão prestando atenção nisso. Olhe, que quando eles forem homens
feitos vocês vão sentir falta dessa época!
Não adianta
falar, ela sabe. Mas como boa mãe que é, fala mesmo assim e repete tantas vezes
quanto forem necessárias para ver se coloca um pouco de juízo na cabeça de seus
meninos. Ora vejam, tratando como meninos seus filhos com mais de quarenta
anos, mas é assim mesmo, para si, eles serão para sempre as suas crianças. Ela
fala porque sabe, aconteceu consigo, parecia que ainda ontem estava levando
Osmar e Antônio na escola, então ela piscou, e hoje os dois já têm os próprios
filhos, tão grandes, quase indo pra universidade.
Antônio até
parece que tem mais juízo, mas Osmar é da pá virada. Desde cedo o Mazinho era
medonho. Era uma criança revoltada, ela não entendia, deu a ele amor, dedicação
e educação, tudo igualzinho ao dedicado a Toninho, mas um saiu de um jeito e o
outro diferente. Agora que já são homens feitos as personalidades não mudaram
nadinha. Qualquer dia desses Mazinho vai ter um ataque do coração, já avisou isso
a ele.
-Meu filho, os
médicos andam dizendo na TV que esse tal de estresse mata. Pare com isso. Não
se exalte por causa de um bando de político ladrão. Eles já roubaram, tá feito,
deixe a justiça cuidar disso agora. Agora você, se continuar desse jeito vai
cair duro no chão qualquer dia desses. Pense com a cabeça, meu filho, e não com
a emoção.
Já está velha,
os filhos criados, os netos florescendo, mas ainda tem esperança, um dia o
juízo entra na cabeça do filho, para que assim como ela, ele também possa ficar
velho e repassar aos seus próprios filhos um pouco do que aprendeu pela vida
afora.
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