Utilizar o transporte público nos
horários de pico é um verdadeiro martírio. Em geral os coletivos estão super
lotados, os usuários não tem escolha, precisam amontoar-se para conseguir um
espaço livre até chegar ao seu destino. Mas há quem sofra mais com esse aperta
e empurra, as mulheres. Alguns homens muito mal intencionados, aproveitam esses
momentos de aperto para molestar as mulheres, “encoxar”, “tirar uma casquinha”,
como queiram entender. Outros ultrapassam todos os níveis de cara de pau e “chegam”
as vias de fato durante o próprio trajeto de ônibus, deixando a mulher suja com
seu esperma.
Pessoalmente, não consigo
compreender qual a “graça” em ficar se esfregando em uma mulher no ônibus. É
repugnante... Enfim, ainda há muito o que mudar no comportamento masculino a fim
de chegar ao respeito pleno às mulheres.
Achei muito interessante uma matéria
que li no site da revista Exame, sobre uma campanha que visa acabar com o tal
do fiu fiu e colocar em panos limpos, definitivamente, que isso é assédio e não
elogio.
Leia a matéria na integra:

“Eu
estava descendo a escada do metrô e dois homens começaram a falar um monte de
besteira atrás de mim, me assediando. As pessoas em volta não fizeram nada.
Senti que estava tão vulnerável que chorei.” O relato é da auxiliar de
administração Thalia de Souza, 18 anos, mas reflete uma situação corriqueira
para mulheres: o assédio nas ruas.
Agredida,
assediada, violentada e vulnerável foram algumas das expressões utilizadas por
entrevistadas da Agência Brasil para se referir ao modo como se sentem nesse
tipo de abordagem. A Campanha Chega
de Fiu Fiu, do Coletivo Olga, em parceria com a Defensoria Pública de São Paulo, quer tornar
visível esse assédio para desnaturalizar uma situação que, na prática, é mais
uma violência de gênero.
“Não
é valorização, não é elogio, não é querer ter um relacionamento, não é flerte”,
destaca a jornalista Juliana de Faria, criadora da campanha. Ela aponta que
esse assédio está dentro de um contexto de violência marcado pelas
desigualdades de gênero. “Talvez isso possa parecer uma questão menor, mas não
é. Estamos falando de direitos muito básicos, então isso já é uma grande
violência”, declarou.
De
acordo com Juliana, as mulheres passam a assumir posturas que limitam
a liberdade individual. “Já nos acostumamos a mudar de calçada para não passar
na frente de um grupo de homens, não passar na frente de um bar ou pensar duas
vezes antes de colocar uma saia”, exemplificou.
Uma
das ações da campanha foi a produção de uma pesquisa na internet, com a
participação de aproximadamente 7,7 mil mulheres. O resultado mostrou que 99,6%
delas já haviam sido assediadas. Cerca de 81% disseram ter deixado de sair para
algum lugar com medo de sofrer assédio e 90% trocaram de roupa pensando no
lugar que iriam por receio de passar por esse tipo de situação.
É
o caso da dona de casa Jéssica de Souza, 23 anos, que precisa ir semanalmente à
Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). “Lá tem
muito caminhoneiro. Penso logo na roupa. Eles ficam chamando, perguntando
quanto eu cobro. É mais do que assédio para mim, é uma humilhação”, relatou.
A
defensora pública Ana Rita Prata, coordenadora auxiliar do Núcleo de Promoção e
Defesa dos Direitos da Mulher, destaca que esse tipo de comportamento é
qualificado penalmente. “É uma contravenção penal, a importunação ofensiva ao
pudor, cuja pena é multa. Há também a caracterização de crime como ato
obsceno”, explicou. Nos casos em que for verificada a violência física, pode
ser caracterizado o crime de estupro. Ela destaca que a responsabilização do
agressor é importante e um direito da vítima, mas que é fundamental tratar do
tema de forma a conscientizar a sociedade sobre a questão. “A responsabilização
de uma pessoa não vai mudar um contexto social”, ponderou.
A
professora Carla Cristina Garcia, do Departamento de Sociologia da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), diz que esse assédio pode ser
explicado por uma cultura em que o espaço público é tido como masculino. “Por
mais que a rua pareça neutra, ela não é. As mulheres sabem dessa cartografia
mental, que você não pode estar em um lugar em determinado momento do dia. A
sociedade e a cultura machista vão impondo a compreensão de que, se algo
acontecer, a culpa é sua”, acrescenta. Ela lembra que, ao mesmo tempo em que se
culpa a vítima e se invisibiliza a violência contra as mulheres, naturaliza-se
a agressividade masculina.
Embora
se sinta agredida ao ouvir comentários obscenos na rua, a vendedora Soraia
Lins, 40 anos, já não se espanta e acha que esse tipo de comportamento está
relacionado a um instinto do homem. “É todo dia. No ônibus, no metrô, se não é
comigo, eu vejo alguém do lado passar por isso. E ninguém se mete, porque pode
ter confusão”, relatou.
Para
a professora da PUC-SP, é preciso investir na educação pela igualdade de gênero
em vez de naturalizar as iniciativas masculinas. “Os homens devem ser educados
para não serem agressores, e não uma cultura que ensina a mulher a se proteger
ao que seria natural do homem, que é ser um assediador. Isso não é verdade nem
para um sexo nem para o outro”, destacou.
A
próxima fase da campanha Chega de Fiu Fiu é reunir recursos, por meio de um
site de financiamento colaborativo, para a produção de um documentário.
A
ideia é usar óculos especiais, com uma microcâmera que filme mulheres
circulando pelas ruas. Em casos de assédio, elas devem questionar os homens
sobre esse comportamento.
“Nossa
primeira meta era R$ 20 mil e conseguimos atingir em 19 horas. Com esse valor,
a gente garante enviar as recompensas para as pessoas que apoiaram e garante
também enviar os óculos espiões para outras regiões”, explicou Juliana. Para
finalizar o filme, serão necessários R$ 80 mil. “Estamos chegando a R$ 50 mil,
que é a nossa segunda meta. Faltam 40 dias para acabar”, informou. Ela espera
que o documentário fique pronto no início de 2016.
Fonte: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/campanha-chega-de-fiu-fiu-pede-fim-do-assedio-a-mulheres.
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