quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Livro da semana: Cartas na Rua, de Charles Bukowski

          

             Cartas na Rua foi o meu primeiro contato com a obra do icônico Charles Bukowski, também vulgarmente conhecido como o velho escritor tarado. Estava curiosa para saber  o que o fazia tão famoso, já nesta primeira leitura descobri, seu cinismo e sarcasmo são de um nível que transcendem a vulgaridade. Sim, as pessoas fazem coisas loucas, falam palavrões, bebem demais e têm ressacas desastrosas e muitas, muitas vezes fazem más escolhas, mas sem remorsos ou culpas, todos seguem em frente pois não há outra coisa a fazer.

Em Cartas na Rua, acompanhamos a trajetória de Hank, um cara que queria ganhar um dinheiro fácil e acaba indo parar em um emprego nos Correio. Longas horas cumprindo sua função entediante no emprego são compensadas pela extravagância em sua vida pessoal. Ele faz tudo demais: beber, fumar, sexo e aposta em cavalos.

Hank é sarcástico e cínico ao extremo. Desfaz e recomeça relações amorosas como quem troca de roupa, mas mesmo assim não é capaz de ferir corações. Tentar acompanhar a vida dele é lançar o olhar sobre a vida do trabalhador cansado e sobrecarregado que só quer alguns minutos de paz e divertimento.


Uma citação que achei ótima:

“O trabalho estava me matando. Durante dez anos eu havia suportado, indignando-me apenas com a rotina, com a monotonia do trabalho. Mas no décimo primeiro ano meu corpo começou a morrer. Decidi que preferia andar descalço e morar numa favela a morrer seguro. Um homem pode ter segurança numa cadeia ou num hospício. Aos cinquenta anos, tendo que pagar pensão alimentícia, pedi demissão.”

            Imagino que Hank estivesse em um estágio avançado de depressão quando finalmente chegou à conclusão que era hora de sair desse emprego. Em certas partes do livro ele relata que sente tonturas e extremo cansaço, faz um check-up médico e nenhum vestígio de doença física é encontrado. O fato é que ele precisava de mudanças para melhorar a qualidade de vida. Fiquei feliz por ele ter tido coragem para mudar e mais uma vez seguir em frente. Se o livro fosse a vida real, aposto que ele encontraria um emprego de que realmente gostasse e a mudança teria valido a pena.


Pode se dizer que Hank é apenas mais um cara em meio a milhões de operários entediados, que seguem a vida, um dia após o outro, sentindo seus sonhos se diluindo em meio a sua rotina. Mas que um dia, mesmo que tenham se passado anos, e alguns até achem que aos cinqüenta anos é tarde demais para recomeçar, saem da sua letargia e atiram tudo para o alto, para buscar e encontrar a sua própria felicidade.

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