
Cartas na Rua foi o meu primeiro contato com a obra
do icônico Charles Bukowski, também vulgarmente conhecido como o velho escritor
tarado. Estava curiosa para saber o que
o fazia tão famoso, já nesta primeira leitura descobri, seu cinismo e sarcasmo
são de um nível que transcendem a vulgaridade. Sim, as pessoas fazem coisas
loucas, falam palavrões, bebem demais e têm ressacas desastrosas e muitas,
muitas vezes fazem más escolhas, mas sem remorsos ou culpas, todos seguem em
frente pois não há outra coisa a fazer.
Em Cartas na
Rua, acompanhamos a trajetória de Hank, um cara que queria ganhar um dinheiro
fácil e acaba indo parar em um emprego nos Correio. Longas horas cumprindo sua
função entediante no emprego são compensadas pela extravagância em sua vida
pessoal. Ele faz tudo demais: beber, fumar, sexo e aposta em cavalos.
Hank é
sarcástico e cínico ao extremo. Desfaz e recomeça relações amorosas como quem
troca de roupa, mas mesmo assim não é capaz de ferir corações. Tentar
acompanhar a vida dele é lançar o olhar sobre a vida do trabalhador cansado e
sobrecarregado que só quer alguns minutos de paz e divertimento.
Uma citação
que achei ótima:
“O trabalho estava me matando. Durante dez anos eu havia
suportado, indignando-me apenas com a rotina, com a monotonia do trabalho. Mas
no décimo primeiro ano meu corpo começou a morrer. Decidi que preferia andar
descalço e morar numa favela a morrer seguro. Um homem pode ter segurança numa
cadeia ou num hospício. Aos cinquenta anos, tendo que pagar pensão alimentícia,
pedi demissão.”
Imagino que Hank estivesse em um estágio
avançado de depressão quando finalmente chegou à conclusão que era hora de sair
desse emprego. Em certas partes do livro ele relata que sente tonturas e
extremo cansaço, faz um check-up médico e nenhum vestígio de doença física é
encontrado. O fato é que ele precisava de mudanças para melhorar a qualidade de
vida. Fiquei feliz por ele ter tido coragem para mudar e mais uma vez seguir em
frente. Se o livro fosse a vida real, aposto que ele encontraria um emprego de
que realmente gostasse e a mudança teria valido a pena.
Pode se dizer
que Hank é apenas mais um cara em meio a milhões de operários entediados, que
seguem a vida, um dia após o outro, sentindo seus sonhos se diluindo em meio a
sua rotina. Mas que um dia, mesmo que tenham se passado anos, e alguns até
achem que aos cinqüenta anos é tarde demais para recomeçar, saem da sua
letargia e atiram tudo para o alto, para buscar e encontrar a sua própria
felicidade.
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