sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Livro da semana: Sempre em movimento, Oliver Sacks


Quantos são os privilegiados que ao atingir à maturidade podem olhar para o passado e dizer:

- Eu vivi plenamente tudo que havia para viver. Algumas vezes fui feliz, em outras não. Mas no fim das contas, valeu a pena. Eu fiz a diferença para muitas pessoas no mundo.
Acredito que bem poucas podem se orgulhar de tal feito e Oliver Sacks sem dúvida foi uma dessas pessoas.

No livro Sempre em Movimento, o autor relembra vários episódios marcantes de sua vida e faz faz uma reflexão sobre seus feitos pessoais e profissionais, suas alegrias e tristezas. Sacks abre para o mundo sua vida pessoal de uma forma marcante e surpreendente. Quem diria que o médico famoso por livros como Tempo de Despertar, que mais tarde virou documentário e posteriormente filme de Hollywood, sentia-se o tempo todo um deslocado e um pouco fracassado em sua profissão. É quase impossível acreditar nisso, mas era dessa forma depreciativa que Oliver Sacks viveu pela maior parte se sua vida.

Nascido na Inglaterra, filho de pais médicos e bem sucedidos, família judaica, ele era o mais novo dos quatro filhos. Seu irmão mais velho era esquizofrênico. Os dois do meio também tornaram-se médicos. Ele também acolheu a profissão de medicina, não que achasse que era aquilo que lhe daria prazer de fazer por toda a vida, mas porque não pensava que pudesse seguir um outro caminho profissional. Formou-se aos 22 anos, porém era jovem demais para seguir carreira e tinha outros planos para aquele momento, visto que estava infeliz com os rumos que sua vida acadêmica estavam tomando, Por isso, apoiado pelos pais, foi viajar pelo mundo. Conheceu novos lugares e pessoas. Querendo fugir do serviço militar inglês foi para o Canadá passar uma temporada, ali viveu de caronas e pequenos empregos. Após esse período alocou-se nos Estados Unidos, onde quase aos trinta anos redescobriu sua paixão pela medicina e começou sua série de grandes feitos na profissão. Mas na época ele não sabia que os feitos eram grandes e muito menos a repercussão que teriam no futuro.

É engraçado como ao estar vivendo a sua vida simples, dinheiro escasso e quase nenhum conforto, Sacks não se dava conta da história maravilhosa que estava construindo. Ao contrário, ele não queria glória e nem glamour, vivia para os pacientes e pensava apenas no melhor para eles. Tão diferente de alguns médicos de hoje, não é? Onde antes de qualquer coisa, para o paciente ser bem atendido, precisa pagar, e muito, antes começar qualquer conversa com o médico.

Oliver Sacks era homossexual. Sofreu a dor do preconceito infligida pelo repúdio da própria mãe. Talvez por isso se sentisse mais confortável morando longe da família. Praticamente não teve relacionamentos românticos em sua juventude. Ficou 35 anos sem sexo. Oliver só descobriu o amor correspondido no fim da vida, quase aos oitenta anos. O amor que ele não pode dar a uma única pessoa nesse longo período de abstinência sentimental romântica, ele transbordou para aqueles que estavam doentes.


Sempre em Movimento é um livro lindo. É importante para analisarmos toda uma trajetória de vida, através dos olhos da experiência, e analisarmos as nossas próprias histórias. Será que um dia poderemos dizer que apesar de tudo, a vida valeu a pena?

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