
Quantos são os privilegiados que ao atingir à maturidade
podem olhar para o passado e dizer:
- Eu vivi plenamente tudo que havia para viver. Algumas
vezes fui feliz, em outras não. Mas no fim das contas, valeu a pena. Eu fiz a
diferença para muitas pessoas no mundo.
Acredito que bem poucas podem se orgulhar de tal feito e
Oliver Sacks sem dúvida foi uma dessas pessoas.
No livro Sempre em Movimento, o autor relembra vários
episódios marcantes de sua vida e faz faz uma reflexão sobre seus feitos
pessoais e profissionais, suas alegrias e tristezas. Sacks abre para o mundo
sua vida pessoal de uma forma marcante e surpreendente. Quem diria que o médico
famoso por livros como Tempo de Despertar, que mais tarde virou documentário e
posteriormente filme de Hollywood, sentia-se o tempo todo um deslocado e um
pouco fracassado em sua profissão. É quase impossível acreditar nisso, mas era
dessa forma depreciativa que Oliver Sacks viveu pela maior parte se sua vida.
Nascido na Inglaterra, filho de pais médicos e bem
sucedidos, família judaica, ele era o mais novo dos quatro filhos. Seu irmão
mais velho era esquizofrênico. Os dois do meio também tornaram-se médicos. Ele também
acolheu a profissão de medicina, não que achasse que era aquilo que lhe daria
prazer de fazer por toda a vida, mas porque não pensava que pudesse seguir um
outro caminho profissional. Formou-se aos 22 anos, porém era jovem demais para
seguir carreira e tinha outros planos para aquele momento, visto que estava
infeliz com os rumos que sua vida acadêmica estavam tomando, Por isso, apoiado
pelos pais, foi viajar pelo mundo. Conheceu novos lugares e pessoas. Querendo
fugir do serviço militar inglês foi para o Canadá passar uma temporada, ali
viveu de caronas e pequenos empregos. Após esse período alocou-se nos Estados
Unidos, onde quase aos trinta anos redescobriu sua paixão pela medicina e
começou sua série de grandes feitos na profissão. Mas na época ele não sabia
que os feitos eram grandes e muito menos a repercussão que teriam no futuro.
É engraçado como ao estar vivendo a sua vida simples,
dinheiro escasso e quase nenhum conforto, Sacks não se dava conta da história
maravilhosa que estava construindo. Ao contrário, ele não queria glória e nem
glamour, vivia para os pacientes e pensava apenas no melhor para eles. Tão
diferente de alguns médicos de hoje, não é? Onde antes de qualquer coisa, para
o paciente ser bem atendido, precisa pagar, e muito, antes começar qualquer
conversa com o médico.
Oliver Sacks era homossexual. Sofreu a dor do preconceito
infligida pelo repúdio da própria mãe. Talvez por isso se sentisse mais
confortável morando longe da família. Praticamente não teve relacionamentos
românticos em sua juventude. Ficou 35 anos sem sexo. Oliver só descobriu o amor
correspondido no fim da vida, quase aos oitenta anos. O amor que ele não pode
dar a uma única pessoa nesse longo período de abstinência sentimental
romântica, ele transbordou para aqueles que estavam doentes.
Sempre em Movimento é um livro lindo. É importante para analisarmos
toda uma trajetória de vida, através dos olhos da experiência, e analisarmos as
nossas próprias histórias. Será que um dia poderemos dizer que apesar de tudo,
a vida valeu a pena?
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