V. Livro I – Emílio ou Da Educação
[...] Nascemos fracos, precisamos de força; nascemos carentes de
tudo, precisamos de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de
juízo. Tudo o que não temos ao nascer e de que precisamos quando
grandes nos é dado pela educação. Essa educação vem-nos da natureza,
ou dos homens ou das coisas. O desenvolvimento interno de nossas
faculdades e de nossos órgãos é a educação da natureza; o uso que nos
ensinam a fazer desse desenvolvimento é a educação dos homens; e a
aquisição de nossa própria experiência sobre os objetos que nos afetam
é a educação das coisas. Assim, cada um de nós é formado por três tipos
de mestres. O discípulo em quem suas diversas lições se opõem é mal
educado e jamais estará de acordo consigo mesmo; aquele em quem
todas elas recaem sobre os mesmos pontos e tendem aos mesmos fins
vai sozinho para seu objetivo e vive conseqüentemente. Só esse é bem
educado. Ora, dessas três educações diferentes, a da natureza não
depende de nós; a das coisas, só em alguns aspectos. A dos homens é a
única de que somos realmente senhores; mesmo assim, só o somos por
suposição, pois quem pode esperar dirigir inteiramente as palavras e as
ações de todos os que rodeiam uma criança? Portanto, uma vez que a
educação é uma arte, é quase impossível que ela tenha êxito, já que o
concurso necessário a seu sucesso não depende de ninguém. Tudo o que
podemos fazer à custa de esforços é nos aproximar mais ou menos do
alvo, mas é preciso sorte para atingi-lo (ROUSSEAU, 1999, p.8s).
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