
Experiência da razão e da linguagem, a filosofia é a peculiar
atividade reflexiva em que, na procura do sentido do mundo e
dos humanos, o pensamento busca pensar-se a si mesmo, a
linguagem busca falar de si mesma e os valores (o bem, o
verdadeiro, o belo, o justo) buscam a origem e a finalidade da
própria ação valorativa. Essa experiência, concretizada no e
pelo trabalho de cada filósofo, constitui o discurso filosófico
(CHAUÍ, 2009, p.12).
[...] uma primeira resposta à pergunta ‘O que é Filosofia?’
poderia ser: a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as
coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os
comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitálos
sem antes havê-los investigado e compreendido
(CHAUÍ, 1995, p.9).
Não vemos nem ouvimos ninguém perguntar, por exemplo,
para que matemática ou física? Para que geografia ou geologia?
Para que história ou sociologia? Para que biologia ou
psicologia? Para que astronomia ou química? Para que pintura,
literatura, música ou dança? Mas todo mundo acha muito
natural perguntar: Para que Filosofia? [...] Em geral, essa
pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos
estudantes de Filosofia: ‘A Filosofia é uma ciência com a qual e
sem a qual o mundo permanece tal e qual’. Ou seja, a Filosofia
não serve para nada. Por isso, se costuma chamar de ‘filósofo’
alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua,
pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são
perfeitamente inúteis (CHAUÍ, 1995, p.12).
O primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é o útil?
Para que e para quem algo é útil? O que é o inútil? Por que e
para quem algo é inútil? O senso comum de nossa sociedade
considera útil o que dá prestígio, poder, fama e riqueza. Julga o
útil pelos resultados visíveis das coisas e das ações,
identificando utilidade e a famosa expressão ‘levar vantagem
em tudo’. Desse ponto de vista, a Filosofia é inteiramente
inútil e defende o direito de ser inútil. [...] Qual seria, então, a
utilidade da Filosofia? [...] Se abandonar a ingenuidade e os
preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar
pela submissão às ideias dominantes e aos poderes
estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do
mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido
das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for
útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para
serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja
a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos
dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os
seres humanos são capazes
(CHAUÍ, 1995, p.16-17).
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