Vanessinha
e Dudu resolveram casar-se. A mãe dela quase caiu de costas quando soube dos
planos da filha.
-
Você só pode estar brincando, Vanessa!
-
Não, mãe. É super sério isso!
A mãe segurou
a respiração, contou até dez. Não estava prestes a explodir em raiva, segurava
era a vontade de rir. Sua filha, Vanessa Gomes da Fonseca, 16 anos, estudante
do ensino médio, querendo casar? Se não bastasse o cômico dessa situação, não
faltou vontade de gargalhar do maluco do tal noivo, o Dudu. A única coisa que
ele sabia fazer da vida era ficar horas na frente da TV, jogando seus games
e ir até a geladeira pegar mais refrigerante. Oi? Onde é que está o erro nessa
história toda? Ela, que casou-se beirando os trinta e já não era mais nenhuma
menina na época, antes do grande dia ainda pensou umas vinte vezes se era a
coisa certa a fazer, e não era, separou-se três anos depois. Canalha, assumiu
sua homossexualidade e foi ser feliz em outras redondezas. Por outro lado,
pensando bem, José Augusto era muito melhor como amigo do que foi como marido.
Ir ao shopping com ele era diversão garantida, sempre!
-
Mãe, porque você tá rindo? Não ta querendo me matar?
Ela olhou
para a filha com o coração repleto de solidariedade. Sua geração foi criada
para repudiar o casamento e a falta de liberdade que ele representava, em sua
época, o bacana era ser independente. Lutou para se virar sozinha e conseguiu.
Agora estava ali, sua filha, querendo viver aos moldes de sua bisavó. Onde foi
que ela errou?
- Não meu
amor, eu só to aqui pensando em algumas coisas práticas da vida. Se você quiser
casar com o Dudu, por mim tudo bem. Dou a maior força. Só fico curiosa pra
saber como é que vocês vão levar essa empreitada adiante. Porque como você
sabe, isso vai significar que vocês terão que arcar com uma casa, água, luz,
comida, mobília, eletrodomésticos, dentre outras cositas más! Pode me
explicar como é que vocês vão bancar isso tudo?
Vanessinha
começa a roer as unhas, por um segundo a mãe desconfia que essas coisas nem
sequer passaram perto da cabecinha adolescente dela. Ela já teve a idade da
filha um dia, sentiu inveja da sua ingenuidade. Tempos bons eram aqueles que
ela não precisava fazer equivalência do preço dos cosméticos com a quantidade
de contas a pagar. Podia comprar uma blusa maravilhosa, a qual seria usada
apenas uma vez, sem sentir a culpa e o remorso por ter deixado de comprar
comida.
-
Ai mãe, esse mundo não é justo. Acho que vamos ter que adiar os planos. O amor
será interrompido pela falta de dinheiro. Droga de mundo capitalista!
-
Sim, minha filha, a vida definitivamente não é justa. Mas quem sabe até depois
da faculdade os planos não sejam apenas adiados, talvez eles sejam totalmente
mudados. Tanta coisa pra acontecer ainda. Por enquanto vai curtindo esse amor
todo aqui em casa, onde eu posso ficar de olho nas loucuras de vocês dois e
ainda patrocino uma pizza. Liga pro Dudu e chama ele pra jantar com a gente.
Vanessinha
corre pro telefone e o tal convite leva trinta minutos para ser feito. Afinal,
ainda era a mãe quem pagava a conta telefônica.