Deitado em um banco do calçadão a beira mar, cabeça
apoiada sobre as mãos, o olhar admirando as estrelas e o ouvido apreciando o
barulho do mar. Ele deixava a respiração fluir livremente e estava alheio ao
mundo ao seu redor. Não teve medo de ser assaltado. Só precisava ficar consigo
mesmo por mais alguns instantes, há muito tempo ele não sabia o que era estar
em sua própria companhia. Após o nascimento de Henrique ele não teve nem mais
um minuto para si mesmo, pensava e vivia para o filho. Isso acontecia com todo
mundo? Não sabia dizer.
O mar
agitava-se ao fundo, o barulho das ondas quebrando era reconfortante. Parecia
que ainda ontem ele não passava de um menino, até mesmo as grandes
responsabilidades do escritório de advocacia pareciam brincadeira perto do fato
de agora ser pai. Tinha muito medo de fazer tudo errado e o filho lhe odiar
para sempre, mas nessa ânsia de acertar sempre e ser perfeito, na prática não
conseguia fazer nada, ficava paralisado. Não entendia como a mulher parecia
saber a coisa certa a fazer todo o tempo. Ficava ainda mais diminuído, não se
sentia importante e nem necessário. O vento batendo no rosto, queria ser uma
folha e sair flutuando pelo ar na direção em que o vento lhe levasse.
Eles
estavam cansados e essa exaustão os deixava menos tolerantes, brigavam por
motivos bobos. Ele se culpava por perder a paciência tão fácil, tentava manter
o controle sobre si mesmo, mas quando percebia, sua voz já estava alterada e
para partir para os gritos era um pulo. Essa noite quando a viu sair chorando
do quarto, pegar o filho no colo e sair rumo ao hospital, ele não teve forças
nem para pedir que ela o esperasse. Ficou imobilizado mais uma vez. Ela e o
filho formavam uma dupla auto suficiente, ele não era parte do grupo. Pelo
menos era assim que pensava.
Por outro
lado, que tipo de pai era ele? Sentiu um alívio imenso quando os dois saíram e
a porta do apartamento foi fechada, o silêncio invadiu o ambiente. Mas não agüentou
a solidão por muito tempo, parecia que seria devorado por ela. Foi para a rua
onde estava até agora.
Henrique
estaria bem? Por que ele não estava ao seu lado? Por que não conseguia ser o pai
que tanto desejava ser? De olhos abertos as lágrimas escorreram pelo seu rosto.
As estrelas ficaram embaçadas e ele se viu muito pequeno, diante do universo e
de si mesmo.
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