terça-feira, 7 de outubro de 2014

Escolhas - Parte 2

            Deitado em um banco do calçadão a beira mar, cabeça apoiada sobre as mãos, o olhar admirando as estrelas e o ouvido apreciando o barulho do mar. Ele deixava a respiração fluir livremente e estava alheio ao mundo ao seu redor. Não teve medo de ser assaltado. Só precisava ficar consigo mesmo por mais alguns instantes, há muito tempo ele não sabia o que era estar em sua própria companhia. Após o nascimento de Henrique ele não teve nem mais um minuto para si mesmo, pensava e vivia para o filho. Isso acontecia com todo mundo? Não sabia dizer.
            O mar agitava-se ao fundo, o barulho das ondas quebrando era reconfortante. Parecia que ainda ontem ele não passava de um menino, até mesmo as grandes responsabilidades do escritório de advocacia pareciam brincadeira perto do fato de agora ser pai. Tinha muito medo de fazer tudo errado e o filho lhe odiar para sempre, mas nessa ânsia de acertar sempre e ser perfeito, na prática não conseguia fazer nada, ficava paralisado. Não entendia como a mulher parecia saber a coisa certa a fazer todo o tempo. Ficava ainda mais diminuído, não se sentia importante e nem necessário. O vento batendo no rosto, queria ser uma folha e sair flutuando pelo ar na direção em que o vento lhe levasse.
            Eles estavam cansados e essa exaustão os deixava menos tolerantes, brigavam por motivos bobos.               Ele se culpava por perder a paciência tão fácil, tentava manter o controle sobre si mesmo, mas quando percebia, sua voz já estava alterada e para partir para os gritos era um pulo. Essa noite quando a viu sair chorando do quarto, pegar o filho no colo e sair rumo ao hospital, ele não teve forças nem para pedir que ela o esperasse. Ficou imobilizado mais uma vez. Ela e o filho formavam uma dupla auto suficiente, ele não era parte do grupo. Pelo menos era assim que pensava.
            Por outro lado, que tipo de pai era ele? Sentiu um alívio imenso quando os dois saíram e a porta do apartamento foi fechada, o silêncio invadiu o ambiente. Mas não agüentou a solidão por muito tempo, parecia que seria devorado por ela. Foi para a rua onde estava até agora.

            Henrique estaria bem? Por que ele não estava ao seu lado? Por que não conseguia ser o pai que tanto desejava ser? De olhos abertos as lágrimas escorreram pelo seu rosto. As estrelas ficaram embaçadas e ele se viu muito pequeno, diante do universo e de si mesmo.

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