Hoje eu morri. Ao abrir meus olhos e despertar em uma nova
dimensão, você foi o primeiro que eu vi. Me recepcionou com festa. Estávamos
felizes porque nada mais importava a não ser o nosso próprio reencontro.
Gargalhamos com gosto da nossa ingenuidade de vivos, fizemos piada do tempo em
que chorávamos pelos problemas que achávamos que tínhamos. Nada disso existia,
agora, sabemos, porque quando se morre não se sente saudade de nada, a não ser
da própria vida.
Quanto
tempo desperdiçado com coisas inúteis, a raiva, o ódio, o estresse e a eterna
insatisfação de querer sempre mais. Nada disso importa mais, porque agora
estamos mortos. Podemos rir, meu querido amigo, de nós e das chagas que criamos
e nos infligimos. Tudo tão pequeno. Melhor seria se tivéssemos aprendido a viver
com menos, talvez assim a vida tivesse se revelado maior. Mas agora nada disso
importa, tudo foi como foi e está feito. As histórias vividas. A vida
eternizada na memória de quem ficou, até que não seja mais nada, além de uma
história contada de tempos em tempos. Um dia virará um conto e ninguém mais se
lembrará desses personagens, de seu choro ou do seu riso, nem daquilo que representou sua vida.
Os sofrimentos, tão inúteis. Riremos disso também. Tudo isso passa e agora estamos aqui celebrando a vida que já não temos. Saudamos não aquela vida que queríamos, mas a que tivemos. Nesse dia em que despertamos da nossa ignorância e percebemos que nada disso importa, porque a morte chegou e tudo o que restou foi o lento esquecimento de quem um dia nós fomos e estamos felizes por não ser mais.
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