Com um início despretensioso e aparentemente maçante, o livro
O Guardião de Memórias consegue absorver completamente a atenção do leitor a
partir do momento em que o protagonista, David, toma a decisão de levar sua
filha nascida com síndrome de Down para uma instituição que cuida de
deficientes mentais, tudo sem que sua esposa saiba. O casal teve gêmeos e a
história que ele conta a mulher é de que apenas uma das crianças sobreviveu ao
parto, a menina nasceu morta.
A história de que o bebê natimorto não foi visto pela mãe e
teve um enterro as escuras são um pouco fracas, mas servem de fundo para uma
outra história muito mais densa e profunda que surge logo a seguir, levanta o
questionamento de o quão longe uma mentira pode ir e o quanto ela afeta a vida
das pessoas que escondem e sustentam esse segredo.
Fiquei comovida com o modo como David se culpou durante anos
por ter feito uma escolha da qual se arrependeria mais tarde e pelo resto da
vida, porém, ainda assim, foi incapaz de revelar a verdade à sua família.
Sustentou um segredo durante anos para com a mulher e o filho. Isolou-se em seu
próprio mundo e viu as pessoas que amava se afastarem. Teve uma vida onde
estava rodeado de pessoas, mas era extremamente só. Os estranhos o admiravam,
mas para sua própria família, ele era apenas um desconhecido.
Participar como leitora, da vida desse personagem e de todos
os outros que fazem parte da trama, me fez refletir no modo como às vezes
tentamos tomar decisões sem consultar as pessoas próximas, na expectativa de
que assim estaremos fazer o bem ao outro. Na ânsia de acertar, erramos. Pois o
mundo, como David e os demais perceberam, não pode ser controlado ou mantido
estático. As coisas acontecem como tem que acontecer e no fim das contas, cedo
ou tarde, doa a quem doer, a verdade vem à tona.
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