- O Brasil está dividido. Vamos
construir um muro separando o sul, o sudeste e o centro-oeste do restante dos
estados. Aceitaremos o Acre porque ele também foi favorável ao camarada Aécio.
Ao restante. O isolamento.
- Apoiado! Apoiado! – gritam outros camaradas
inconformados com o resultado das urnas.
O clima era tenso naqueles dias. Antes das eleições os
eleitores do PT precisavam andar calados, esgueirando-se de perguntas sobre seu
voto. Usar as redes sociais era impossível, o estereótipo de pobre, burro e
analfabeto era muito atribuído aos vermelhos. Se fosse nordestino então, pobre
alma! Sobre suas costas recaía o julgo de mais de centenas de adjetivos
pejorativos. Artistas e personalidades da moda manifestavam-se a favor das aves
tropicais. O bacana era ser quarenta e cinco, o treze virou sinônimo de mau
agouro e azar. Eram tempos de silêncio.
Porém no dia 26 de outubro de 2014, o
povo, representado numericamente pela sua maioria, sem precisar dizer uma
palavra, impôs sua vontade. Houve então a explosão da voz dos silenciados.
Após ser encerrada a eleição e
apresentado o resultado das urnas, não existiu um espírito amistoso. O respeito
foi esquecido. Enfurecidos pela derrota, partidários da ave tropical despejaram
seu ódio em forma de palavras através das redes sociais e de comentários ácidos
entre seus amigos. O ódio virou piada e teve gente que achou graça destilar do
seu veneno também contra outras pessoas. Virou um desfile de preconceito,
crime, inclusive no Brasil. O eleitor dos vermelhos estereotipou-se como o nordestino,
pobre, beneficiário do programa bolsa família, com cinco crianças pequenas para
criar, morador do sertão, passando fome e sede, sem trabalho, analfabeto,
ignorante e deitado numa rede esperando o tempo passar.
Descrição mais longe da realidade impossível.
Quem sabe por conhecer tão mal a diversidade e pluralidade do Brasil, suas
diferentes formas de agir e pensar, foi o motivo que fez as aves tropicais se estatelarem
no chão. O vôo foi alto e o tombo grande, devido à soberba por não reconhecer seus
próprios limites e de seus semelhantes. Ser parte do grupinho das aves era
legal, muito It e pop nas redes sociais. Talvez por isso mesmo, tenha afastado
de si as pessoas que não se identificam com essa cultura favorável a
desigualdade social, intolerância e preconceito.
Entre ser parte de um grupinho seleto de
celebridades ou de um movimento que preza pela igualdade social, eu sempre optarei
pela segunda opção. Pelo visto, a maioria do Brasil concorda comigo.
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