terça-feira, 28 de outubro de 2014

Um pouco sobre o preconceito

     - O Brasil está dividido. Vamos construir um muro separando o sul, o sudeste e o centro-oeste do restante dos estados. Aceitaremos o Acre porque ele também foi favorável ao camarada Aécio. Ao restante. O isolamento.
- Apoiado! Apoiado! – gritam outros camaradas inconformados com o resultado das urnas.

        O clima era tenso naqueles dias. Antes das eleições os eleitores do PT precisavam andar calados, esgueirando-se de perguntas sobre seu voto. Usar as redes sociais era impossível, o estereótipo de pobre, burro e analfabeto era muito atribuído aos vermelhos. Se fosse nordestino então, pobre alma! Sobre suas costas recaía o julgo de mais de centenas de adjetivos pejorativos. Artistas e personalidades da moda manifestavam-se a favor das aves tropicais. O bacana era ser quarenta e cinco, o treze virou sinônimo de mau agouro e azar. Eram tempos de silêncio.
     Porém no dia 26 de outubro de 2014, o povo, representado numericamente pela sua maioria, sem precisar dizer uma palavra, impôs sua vontade. Houve então a explosão da voz dos silenciados.

        Após ser encerrada a eleição e apresentado o resultado das urnas, não existiu um espírito amistoso. O respeito foi esquecido. Enfurecidos pela derrota, partidários da ave tropical despejaram seu ódio em forma de palavras através das redes sociais e de comentários ácidos entre seus amigos. O ódio virou piada e teve gente que achou graça destilar do seu veneno também contra outras pessoas. Virou um desfile de preconceito, crime, inclusive no Brasil. O eleitor dos vermelhos estereotipou-se como o nordestino, pobre, beneficiário do programa bolsa família, com cinco crianças pequenas para criar, morador do sertão, passando fome e sede, sem trabalho, analfabeto, ignorante e deitado numa rede esperando o tempo passar.

        Descrição mais longe da realidade impossível. Quem sabe por conhecer tão mal a diversidade e pluralidade do Brasil, suas diferentes formas de agir e pensar, foi o motivo que fez as aves tropicais se estatelarem no chão. O vôo foi alto e o tombo grande, devido à soberba por não reconhecer seus próprios limites e de seus semelhantes. Ser parte do grupinho das aves era legal, muito It e pop nas redes sociais. Talvez por isso mesmo, tenha afastado de si as pessoas que não se identificam com essa cultura favorável a desigualdade social, intolerância e preconceito.
       

     Entre ser parte de um grupinho seleto de celebridades ou de um movimento que preza pela igualdade social, eu sempre optarei pela segunda opção. Pelo visto, a maioria do Brasil concorda comigo.

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