Acordam cedo. Colocam seus uniformes e vão trabalhar. A
maioria vem os ônibus que a empresa freta para o transporte dos funcionários.
Entre os sacolejos do translado alguns dormiram. Um exército enfileirado de
sonolentos se acumula ao lado do relógio ponto. Enquanto esperam para adentrar
ao seu campo de batalhas, os nobres soldados industriais fazem demonstrações de
seus vastos conhecimentos políticos, econômicos e sociais. Em seus comentários
eruditos ninguém é poupado. Argumentam contra e a favor desde à postura da
presidenta Dilma frente aos conflitos com os rebeldes na Síria até a qualidade
da limpeza dos banheiros de uso comum. São juizes implacáveis.
Sobre as
eleições as opiniões se dividem, a única unanimidade é a de que todos têm
opiniões. Um salve à democracia. Aécio merece ganhar porque é ele quem vai
manter as indústrias brasileiras funcionando e será o santíssimo intercessor
que trará os investidores do setor privado para depositar seu sagrado dinheiro
em nossa terra. Ao mesmo tempo será um sacrilégio se este mesmo Aécio assumir o
poder supremo, pois acabará com todos os direitos do povo a ferias, FGTS e
aposentadoria. Um terror, um terror. Retornaremos ao tempo da escravidão com
Aécio. Tirem o mineiro do páreo.
Marina é a
pobre menina que dividia um ovo com os irmãos enquanto os pais passavam fome.
Coitadinha, bem seria merecido que assumisse a presidência para novamente uma
mulher assumir o comando e não perdermos a originalidade de a chamarmos de
presidenta. Mas aparenta fragilidade e o povo não gosta de gente fraca. Ela não
terá o pulso firme o suficiente para assumir um cargo tão importante, defendem
algum. Deve-se dizer que esses mesmos
argumentadores tão convictos de sua fraqueza são os mesmos que se emocionaram,
talvez até tenha escorrido uma lagrimazinha, quando Marina, a menina magricela,
falou sobre o ovo e cebolas em seu horário eleitoral. O povo e seus conflitos
internos.
Resta
Dilma, a poderosa. Ninguém quer o PT, mas todos querem os incentivos e
donativos que eles proporcionam ao povo. Grave questão. Perfeita seria uma
mudança no nome do partido. Não gostam de Dilma, mas ela fala forte e passa
convicção. Como seria para o pobre povo passar quatro anos sem sua intervenção.
Assumiria o poder a turma de Aécio com suas chibatas a descerem sobre o lombo
do trabalhador? O medo. Ah, o medo! Quer manter um ser cativo, imponha-lhe o
medo de mudar. Pois então que fique a Dilma, pelo menos dela já sabemos o que
esperar. Chega-se finalmente a um consenso.
Assim,
nesses cinco minutos que antecedem o som ensurdecedor da sirene que avisa aos
soldados que já é momento de assumir seu posto e começar sua produção, é
possível ao cidadão mais desinformado inteirar-se de política e tantas outras
mazelas importantes para a vida e o bom convívio social. Rende o assunto. Da
fila é possível tirar conversa para um dia todo de trabalho, posto que seria
impossível iniciar um debate tão emocionante e perpetuá-lo por meros cinco
minutos.
Quer ficar
bem informado? Esqueça o Jornal Nacional. Chegue cedo às redondezas do relógio
ponto. Espiche suas orelhas e delicie-se com a fartura de entretenimento.
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