- Garoto, volta aqui! Me responde, onde está o meu colar?
– grita a mulher enquanto com um puxão de orelhas suspende o menino do chão.
- Você tá
louca mãe? Quer desgrudar minha orelha da cabeça? Vou chamar o conselho tutelar
e você vai presa! Conheço meus direitos. – o menino protesta e fundamenta de
forma brilhante seus argumentos.
A mãe
entra em choque e cede. O garoto sumiu com seu colar, mas que importância tem
isso? Embora endiabrado, respondão e arteiro, ele é apenas uma criança. Já ela,
o que é ela? Nada além de uma criminosa agindo de forma violeta para com o seu
próprio filho.Uma pobre inocente e indefesa criança! Vai para o inferno, não
tem dúvidas, e se bobear para a cadeia também. A educação mudou de nome e
endereço.
Enquanto
a mulher se corrói em remorsos, o menino já está longe, fugiu para o quarto. Dá
uma espiada em direção a porta para se certificar de que a mãe não veio atrás
dele, não pode correr o risco de ser pego em flagrante. Tira o colar de pérolas
do bolso e o guarda escondido na última gaveta de sua cômoda. Tem planos
ousados para usa-lo no futuro. Outro dia assistiu a um filme onde um garoto de
sua idade estoura um colar igual a esse da mãe e espalha as bolinhas pelo chão,
fazendo um adulto deslizar sobre elas e estatelar-se pelo chão. Muito
divertido, teria que fazer igual. Pouco lhe importa se no cinema usam pérolas
falsas e o que tem em mãos são verdadeiras. Os fins justificam os meio, em nome
da arte é preciso que haja algum sacrifício. Estava tudo jutisficado.
Absolutamente
consumida pela culpa, a mãe entra no quarto e se aproxima do filho. Pede
desculpas, jura que nunca mais vai trata-lo de forma tão cruel e desumana. É
uma péssima mãe e tem consciência disso. Ele pode lhe pedir o que quiser, ela
lhe dará de bom grado e coração aberto. Ele é um bom menino. Ela o ama. Que
façam as pazes. O garoto faz cara de quem está considerando a proposta, muito
embora achasse o puxão de orelha coisa pouca perto do que pode vir pela frente,
não era possível que aceitasse assim tão rápido a proposta da mãe. Há que se
fazer de difícil. Está com a faca e o queijo na mão. A constituição está do seu
lado. Não é coisa pouca. Faz caras e bocas. Coloca o dedo no canto dos lábios,
como quem diz, não me interrompa,estou a pensar. Até que finalmente se
pronuncia:
- Você
foi malvada, mas se fizer um brigadeiro agorinha mesmo, sou capaz de lhe
perdoar.
A mãe
sorri. Estava preparada para chantagens piores. Um vídeo game novo ou coisas do
gênero. Ela conhecia muito bem o filho que tinha, não era exatamente flor que
se cheirasse o danado. Ai, meu Deus! Lá estava ela de novo a fazer mal juízo do
filho. Não, não. O menino era um santo, ela a criminosa. Deus que a perdoasse.
Não queria ir para a cadeia, digo, para o inferno. Se em matéria de mães diz-se
que estas não se enganam jamais, então ela era a exceção. Para o bem da constituição,
conselheiras tutelares e orelhas descoladas, não se falou mais nisso.
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