O povo sabe das coisas. A força da opinião da massa humana
que labuta diariamente em nosso país é implacável. Em sabedoria só abaixa a
cabeça em respeito ao excelentíssimo Sr. Joaquim Barbosa, um homem que sabia
das coisas e também sabia fazer direito. Um advogado, não faria outra coisa
melhor. O país está sedento por justiça e seus justiceiros, uma pena o homem
ter corrido da política (ou quem sabe correram com ele?). Já estaria eleito a essa altura do campeonato. O que de
certa forma seria uma pena, pois muitos debates políticos teriam sido extintos,
e as boas brigas de palavras para as horas de tédio em que os cidadãos são
expostos diariamente, ficariam vazias. Uma vida muito sem graça.
O
povo é culto e exigente, disso todo mundo sabe e é redundante repetir. Se em casa
come pão com margarina, come porque quer, ninguém lhe impõe nada. Já na empresa
onde trabalha, está pagando, vale lembrar, a comida tem que ser de primeira.
Ora vejam, a salada está mal lavada. O arroz duro e o feijão queimado. O bife,
não é preciso nem comentar tamanha a dureza. Pois é disso que falo, o povo não
quer comer carne de segunda, conheceu o gosto do filé mignon e não quer
regredir no âmbito do paladar. Ora pois se é pela barriga que se conquista um
marido, já se dizia antigamente, não seria diferente para conquistar a
satisfação de um bom funcionário. Não se deve economizar com a comida.
Mas
cá para mim, que gosto de polêmicas e de escrever sobre elas, a satisfação
humana completa e absoluta é um jardim do Éden muito bem escondido, e que desconfio
eu, de localização impossível de descobrir. O fato é que a qualidade da comida
servida no refeitório da empresa pode ser motivo para protestos e motins.
Imagine, funcionários trocando comentários a boca miúda, em sussurros quase
inaudíveis, “você comeu aquele bife hoje? Meu Deus, acho que vou passar mal.”
Ao que se responde em tom igualmente baixo “Não acredito que ainda pago por
esta comida”. O gerente chega e o bolinho se afasta, os rebeldes se dispersam,
mas não sem antes trocar uma piscadela em caráter de cumplicidade. Pior ainda é
quando começam a circular e-mails sobre as idéias dissidentes dos grupos
revolucionários que pleiteiam uma guerra em favor da troca de mando de cozinha,
saiam as cozinheiras ruins e entrem as boas.
Pelo
bem da normalidade dos trabalhos, digo, da democracia, o gerente responsável
pela queda ou ascensão de novas cozinheiras, cede. Ele já viu o povo rebelar-se
centenas de vezes e outras tantas se acalmar, para depois se rebelar novamente
em prol da causa gastronômica, já não se assusta mais. Combinou com as
cozinheiras um plano de ação estratégica. Saiam daqui, mudem o estilo das
roupas e o corte de cabelo, tirem uns dias de férias e depois voltamos a
conversar. Um homem sábio esse gerente. Ele sabe que com o povo não se brinca,
mas é possível enganar. Ninguém reclama, até gostam. Sabe como é, precisa de
assunto para os encontros na mesa do cafezinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário