quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Almoço no refeitório da empresa

             O povo sabe das coisas. A força da opinião da massa humana que labuta diariamente em nosso país é implacável. Em sabedoria só abaixa a cabeça em respeito ao excelentíssimo Sr. Joaquim Barbosa, um homem que sabia das coisas e também sabia fazer direito. Um advogado, não faria outra coisa melhor. O país está sedento por justiça e seus justiceiros, uma pena o homem ter corrido da política (ou quem sabe correram com ele?). Já estaria  eleito a essa altura do campeonato. O que de certa forma seria uma pena, pois muitos debates políticos teriam sido extintos, e as boas brigas de palavras para as horas de tédio em que os cidadãos são expostos diariamente, ficariam vazias. Uma vida muito sem graça.
            O povo é culto e exigente, disso todo mundo sabe e é redundante repetir. Se em casa come pão com margarina, come porque quer, ninguém lhe impõe nada. Já na empresa onde trabalha, está pagando, vale lembrar, a comida tem que ser de primeira. Ora vejam, a salada está mal lavada. O arroz duro e o feijão queimado. O bife, não é preciso nem comentar tamanha a dureza. Pois é disso que falo, o povo não quer comer carne de segunda, conheceu o gosto do filé mignon e não quer regredir no âmbito do paladar. Ora pois se é pela barriga que se conquista um marido, já se dizia antigamente, não seria diferente para conquistar a satisfação de um bom funcionário. Não se deve economizar com a comida.
            Mas cá para mim, que gosto de polêmicas e de escrever sobre elas, a satisfação humana completa e absoluta é um jardim do Éden muito bem escondido, e que desconfio eu, de localização impossível de descobrir. O fato é que a qualidade da comida servida no refeitório da empresa pode ser motivo para protestos e motins. Imagine, funcionários trocando comentários a boca miúda, em sussurros quase inaudíveis, “você comeu aquele bife hoje? Meu Deus, acho que vou passar mal.” Ao que se responde em tom igualmente baixo “Não acredito que ainda pago por esta comida”. O gerente chega e o bolinho se afasta, os rebeldes se dispersam, mas não sem antes trocar uma piscadela em caráter de cumplicidade. Pior ainda é quando começam a circular e-mails sobre as idéias dissidentes dos grupos revolucionários que pleiteiam uma guerra em favor da troca de mando de cozinha, saiam as cozinheiras ruins e entrem as boas.

            Pelo bem da normalidade dos trabalhos, digo, da democracia, o gerente responsável pela queda ou ascensão de novas cozinheiras, cede. Ele já viu o povo rebelar-se centenas de vezes e outras tantas se acalmar, para depois se rebelar novamente em prol da causa gastronômica, já não se assusta mais. Combinou com as cozinheiras um plano de ação estratégica. Saiam daqui, mudem o estilo das roupas e o corte de cabelo, tirem uns dias de férias e depois voltamos a conversar. Um homem sábio esse gerente. Ele sabe que com o povo não se brinca, mas é possível enganar. Ninguém reclama, até gostam. Sabe como é, precisa de assunto para os encontros na mesa do cafezinho. 

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