Essa semana confrontei-me com duas despedidas bastante distintas. Uma delas foi um até logo para um colega de trabalho muito querido, que se despede da nossa equipe de trabalho para ir em ao encontro de outra oportunidade profissional. É um momento feliz, pois existe nessa mudança uma promessa de novos e melhores ventos para a sua navegação profissional e pessoal. A despedida foi repleta de risos e juras sinceras de mantermos contato. Haverá um depois. Podemos planejar parcerias lá para frente. Existe um futuro.
Por outro lado, a outra despedida de que falei, refere-se a um adeus sem promessas de amanhã. Trata-se da morte. O falecimento de um amigo muito especial, mexeu com minhas emoções, me fez refletir nesses conceitos de vida e de morte, e também nos planejamentos que os seguem. O tema é batido, a morte é a única certeza da vida. Porém, não pensamos nela com frequência, inclusive, procuramos evitar o assunto, não faz bem, atrai, dizem alguns. Por minha vez, penso que é necessário pensar na morte e em sua eminência tanto quanto planejamos os passos que daremos durante a jornada de nossa vida. Parece-me que ao encararmos a vida como algo eterno onde poderemos fazer planos contínuo sem interferência alguma das situações do acaso, perdemos um pouco da sensibilidade humana de desfrutar os momentos do presente. As tão faladas pequenas coisas que dão grande sentido à vida, arrisco dizer, na verdade são as grandes coisas que dão sentido a nossa tão pequena e breve vida.
Na juventude a única preocupação é aproveitar a vida, curtir os amigos e desfrutar de todos os momentos possíveis, como se não houvesse um amanhã. Ao passo que à medida que envelhecemos, vamos carregando nossa mente com cobranças e expectativas, sejam sobre a família, profissão, dinheiro ou outras tantas preocupações, que nos esquecemos que na verdade o amanhã pode não existir. Se quando jovens excedemos os limites por querer tirar da vida o máximo que se pode de uma única vez, quando mais velhos, o excesso está em querer evitar os riscos e controlar tudo, como se isso fosse possível.
Ninguém controla a vida ou a morte. Somente temos o momento presente, é nele que estão todas as coisas e pessoas de que precisamos. É preciso valorizá-las nesse tempo. Cada dia deveria ser construído como algo único e muito especial, talvez seja o último. É uma dádiva estar vivo para aproveitá-lo. Passando por esta despedida sem volta de meu amigo, jamais esquecerei do nosso derradeiro encontro, no quarto do hospital onde ele estava internado. Acabara de sair de uma cirurgia complicada, remoção do intestino. Teve necrose. Problema grave ocasionado principalmente pelo fato de fumar há anos. Estávamos otimistas, ele melhorava a cada dia. Os médicos em suas previsões não haviam lhe concedido 24h de vida, ele já lutava a 5 dias. Não queria morrer, queria viver. Eu acreditei nele e em sua vontade de agarrar-se a essa nova chance para mudar seu estilo de vida. Conversamos por uma boa meia hora e no instante de despedir-me prometi que voltaria ainda no fim de semana para vê-lo. Visitei-o no domingo, no velório. Não conversamos uma segunda vez. Falência múltipla de órgãos na madrugada de sábado para domingo. Sigo minha vida com o peso dessa promessa quebrada.
Em meio às reflexões sobre a fragilidade da vida e dos lapsos de dor que surgem em meu peito a cada vez que lembro desse grande amigo, não são poucas as vezes, levarei comigo a certeza de que o único momento para vivermos é o agora. Todo o resto é bobagem. É importante pensar no futuro, traçar um norte, ter objetivos e buscar alcançá-los. Mas frustar-se, machucar pessoas, medo de mudar, isso não deveria estar no roteiro. Pois parafraseando o coerente e certo pensamento eternizado por Renato Russo, é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, pois se você parar para pensar, na verdade não há.
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