Ele chega
atrasado. Uma hora não é assim tanto tempo, saiu da casa da Glorinha para vir
direto para a casa da Joana. Vida dura essa dos seus 20 e poucos anos. Sabia
que a namorada ia brigar com ele por causa do atraso, da falta de banho e quem
sabe, se percebesse, por ter sentido um leve cheiro de perfume de mulher. Mania
besta da Glorinha de passar perfume para os seus encontros escondidos. Teria
que passar uma dura nela, que não se repita. Antes de sair da casa dela deu uma
conferida, com mordidas, arranhões, chupão e marca de batom, ele não precisaria
se preocupar.
Joana o
recebe com beijos e afagos. Como era bom vê-lo. Seu dia agora estava completo.
Era sua e ele dela. Felicidades eternas ao casal. Sente o cheiro do perfume, de
mulher, e não era o da sogra. Cheiro de vagabunda!
- Paulo,
que perfume é esse na sua blusa?
- Meu
perfume novo, ué? - Responde ele muito despreocupado.
- Deu pra
usar perfume de mulher agora?
- Sim,
sou um homem sem preconceitos. Aceito muito bem as novidades e gosto de inovar.
A palavra do momento é inovação, não sabia disso não?
A
namorada pondera, desconfiou que ele lhe pregava uma mentira e das bravas. Paulo nunca usou perfume na vida, no máximo
um desodorante e do tipo roll-on. Namoravam há anos, conhecia seus
gostos e costumes, não podia ter mudado assim de uma hora para outra. Mas o
amor, ah, o amor, cega, já falamos disso. Essa passou batida. Afaga suas costas e o convida para entrar em
casa. Abre a porta para ele e o segue. Nas costas de sua camisa está escrito
com lápis de olho, em letras garrafais “TRANSEI COM GLORINHA ANTES DE IR NA SUA
CASA” e logo abaixo vinha a frase “JOANA CORNA”. Ela fica estática. Abre e
fecha a boca umas duas vezes. Não consegue expressar nenhuma palavra. O mundo
parou e alguém puxou o tapete de debaixo dos seus pés.
- Paulo
Ricardo Amorim, o que é isso escrito nas costas da sua camisa?
- Tá
louca Joana, não tem nada escrito aí atrás! A camisa é sem estampa. – rebate
ele.
Joana é
enfática, tem algo escrito nas costas da camisa dele. Leva-o até em frente a um
espelho, ele se torce todo de modo a enxergar a escrita. Ele viu e negou o que
viu. Maldita Glorinha.
- Não tem
nada aí Joana! Você e suas paranóias. To ficando de saco cheio disso!
Ela não
pode acreditar nas palavras dele. Louca? Vamos ver quem é a louca. Faz com que
ele tire a camisa, praticamente lhe esfrega os dizeres na cara. Ele segue
negando. Coisas de sua cabeça neurótica, rebate ele. Seguem a discussão por
longos minutos. Joana cansa. Deve ser tudo coisa de sua cabeça mesmo. Paulo não
seria capaz de mentir assim tão descaradamente para ela. Tudo tem limite.
Precisava procurar um médico com urgência. Mas isso faria outro dia. Agora
cuidaria de namorar um pouco, pois o amor e seus sintomas vem antes de tudo, até
do bom senso e amor próprio.
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